quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Arte, tradição, e o Sr. João Merda

Arte e tradição têm a irritante mania de se colarem uma à outra quando lhes convêm.
Temos a "arte da cozinha tradicional", a "arte dos pauliteiros", a "arte da renda de bilros", a "arte das caldas". Enfim, até temos a "arte de andar vestido à mariconço a espetar ferros em touros para gáudio de uma cambada de labregos pedantes".

Esta última parece que se chama tauromaquia, e também foi elevada a estatuto de arte pelo peso da tradição. Aparentemente, se suficientes pessoas travestidas torturarem touros durante um longo período de tempo, a actividade torna-se artística.
Isto é fabuloso, na medida em que abre um extraordinário potencial artístico para a nossa grande nação, que tem tradições que nunca mais acabam.

Assim de repente ocorre-me uma... Durante 150 anos mandámos para a fogueira milhares de epilépticos e senhoras com gatos pretos. Até aqui tudo bem, afinal somos cristãos. Mas olha que agradável seria, volvidos 330 anos, poder ainda passar um sábado ou um domingo com família e amigos, a beber uma bjeca, e a ver um puto epiléptico a arder no espeto na gloriosa praça de touros do campo pequeno. Não me digam que não era divertido. Ok, não tem o cavalo a ser esventrado, mas lembrem-se que quando se queima uma senhora, queima-se também o gato. É o dobro da diversão!

Há no entanto um forte potencial de entretenimento na possibilidade de um cavaleiro ou bandarilheiro ser empalado pelo touro. É improvável, porque na corrida à portuguesa cortam as pontas aos animais, mas ainda assim, a ideia de um Pedrito de Portugal ou um Joaquim Bastinhas a ser privado das suas entranhas por uma cornada vigorosa traz-me um sorriso enternecedor aos lábios.

Venham-me agora dizer que a tauromaquia é uma arte, completamente distinta de qualquer tipo de diversão bárbara, e eu conto-vos a anedota do sujeito que queria mudar de nome.

- Bom dia, o meu nome é João Merda, e queria mudar de nome.

- É natural Sr. João! Percebo o seu problema. E queria mudar para que nome?

- Pedro Merda.

Meus amigos, a merda mantêm-se.

12 comentários:

Ludwig Krippahl disse...

Lindo era treinar o touro a marrar ao lado do paninho...

Ou então ao contrário. O toureiro nunca podia treinar, e era morto logo a seguir à primeira tourada.

Krippmeister disse...

... e tinha que tourear com varios ferros espetados nos costados. Isso sim, seria um espectáculo grandioso.

Patricia Dias disse...

E agora com o novo Campo Pequeno até aposto que faziam uma gala na TVI...

Anónimo disse...

uma vez que pensamos nos pobres dos touros, porque não pensarmos nos pobres dos insectos que sucumbem escarrapachados nos nossos automóveis aquando das nossas gloriosas e estonteantes viagens ao volante!!! qual é a diferença? não tem transmissão televisiva? é tempo de sermos coerentes...

Krippmeister disse...

Caro jpinho, a menos que ache que esborrachar insectos nos pára-brisas é uma arte, estamos a ser coerentes.

É certo que matamos animais por variadas razões. Matamos galinhas para comer, asfixiamos mosquitos para dormir melhor e evitar apanhar alguma doença, e esmagamos centenas de insectos na grelha do radiador cada vez que vamos visitar a avózinha à terra, mas não lhe chamamos "arte da esmagatoria do insecto". Não se cria uma tradição e uma indústria de entretenimento que gira em volta da arte de esmagar insectos no vidro do carro. A ideia é ridícula demais, até mesmo para os aficionados da tauromaquia. (embora possa estar enganado...)

A questão da coerência também não é tão simples como parece. Mentimos a umas pessoas e a outras não, mudamos de namorada, mudamos de roupa, mudamos de penteado, mudamos de profissão, ou seja, estamos constantemente a avaliar as causas e as consequências de cada situação, pesando-as para decidir se vale a pena ou não agir de determinada maneira.
A coerência neste caso não está em amar todos os animaizinhos de forma total e incontestável, está em pesar os prós e contras da situação de acordo com os valores que me foram ensinados.
Se eu passar a ir de bicicleta visitar a avó à terra demoro 4 meses para ir e vir, o que para mim será um preço demasiada alto a pagar para salvar a vida a algumas centenas de insectos. Já no caso da tauromaquia, o preço de salvar a vida ao touro é abdicar de ver um tipo amaricado de collants cor-se-rosa e latejoulas, de rabinho espetado, a furar um touro com ferros. Até pagava para não ter que ver.

Ludwig Krippahl disse...

Acho que o jpinho está a confundir a morte dos animais com o sofrimento. Há legislação a regular a forma como animais devem ser transportados e abatidos, precisamente para evitar que sofram sem necessidade. Até os ratos de laboratório estão protegidos, e alguém que se entretivesse a espetá-los até à morte só por gozo iria ter problemas com a lei.

Se quer coerência, aplique os mesmos principios à tourada.

Krippmeister disse...

A solução parece-me simples:
Deixam-se os touros correr com pontas, acaba-se com a tradição cobardolas do cavaleiro a espetar ferros lá de cima protegido pelo coitado do cavalo, e substituem-se os ferros do bandarilheiro por dois cotonetes. Assim proporciona-se aos amantes da festa brava o entretenimento que procuram: homens em collants e sangue (mas já não o do touro)

Se o toureiro conseguisse limpar os ouvidos ao touro antes de ser esventrado, aí sim, seria um verdadeiro artista.

Ludwig Krippahl disse...

Também estive para escrever essa dos cotonetes. Isto deve ser genético...

Krippmeister disse...

É normal. O cotonete é o oposto da bandeirilha. hehehe

ar disse...

Adorei esta dissertação.
E não poderia estra mais de acordo com estes krippahls!

Anónimo disse...

MERDA É VOÇÊ FILHO DA PUTA DO CARALHO . ALEM DE VAGABUNDO E FICA A ESCREVER MERDAS NA INTERNET . DEVIAS TER VERGONHA CÃO !

Krippmeister disse...

Um comentário insultuoso anónimo em brasileirês aportugasileirado, num post com mais de dois anos.

Tu sabes causar impacto.