sábado, 27 de janeiro de 2007

Traição no Asfalto

Os campeonatos de Mario Kart - Double Dash, na MrNet (onde trabalho) são um ritual que se repete todos os dias a seguir ao almoço e ao final da tarde. É uma forma divertida de juntar a malta e descomprimir. Ainda assim o nível competitivo é elevado, sendo que se recorre frequentemente ao malbaratismo obsceno quando a prova não vai de feição.

O número de competidores em cada campeonato varia conforme a disponibilidade de cada um, e ultimamente tenho queimado borracha contra a minha querida amiga Joaninha, em corridas mano a mano capazes de fazer o Michael Shumacher parecer uma lesma octagenária com osteoporose. Tal competitividade fez emergir a mais vil e traiçoeira manobra anti-desportiva que o mundo do Mario Kartismo mundial jamais houvera visto.

Segue-se o relato da ocorrência:

Na fase final da corrida, a Joaninha apoderou-se de um nuke - concha teleguiada que rebenta sempre com o corredor que está em primeiro lugar, mesmo que seja quem a lança - confiando na minha honestidade e espírito desportivo perguntou-me, sem consultar o marcador das posições:

"És tu que vais à frente? Ou sou eu?"

Momentos antes tinha havido uma troca de tiros e eu estava em segundo lugar, num caminho alternativo ainda a deitar fumo pelas nádegas, mas face à possibilidade de levar com um nuke no trombil, decidi dar o golpe e respondi:

"Sou eu, claro!"

"Mas não te vejo..." Disse a Joaninha

"Ui, já lá vou muito à freeeeente"

"Então toma lá!" E lançou o nuke... que deu uma piruetazinha no ar e lhe rebentou em cima com uma nuvem azul incandescente, mandando o carro para o galheiro com os repectivos ocupantes a guinchar histericamente.

Ganhei a corrida, mas a traição no asfalto foi um episódio negro da história da humanidade. Um testemunho do que de mais excecrável há no esgoto profundo da alma humana, um flagelo ao nível do terrorismo, a inquisição, ou o teatro de revista.

Este post é um pedido público de desculpas, mas desculpas a sério, nada daquelas merdas tipo igreja católica:

"Prontos ok, queimámos uns quantos bacanos na fogueira por terem gatos pretos... ok umas dezenas de milhares... sim, sim, e há a cena das cruzadas yá, mas isso, tipo, era pa libertar lá a cena man... e fanar o guito aos monhés ok, mas fonix! Qual é a vossa onda? Caguem lá nisso man, isso foi já foi à culhoé!"

Vai daí que a partir de agora prometo abandonar a mentira e a dissimulação maquiavélica (que remédio, já não pega mais vez nenhuma) e vou-me limitar à ogiva termonuclear telecomandada com asas, à bola de ferro esmagadora gigante, à metralhadora de cascas, ao raio minguante, e às caixas cirúrgicamente colocadas à saída das rampas, mais vulgarmente conhecidas como Krippmeister Special.

Vemo-nos no asfalto...

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Uma dúzia de um só ovo

1/24 de segundo é quanto dura a obra de arte mais curta da história. É um filme de um só frame da autoria do artista Ken Jacobs. Segundo um senhor chamado Harry Kreisler, o trabalho de Jacobs "cria experiências desorientadoras que potenciam o observador, combinando elementos de tragédia, comédia, história e mistério".

É só no universo intelectualóide da arte que o Ken pode fazer um filme de um só frame. É o equivalente a fazer uma fila de um só carro, um tripé de uma só perna ou uma dúzia de um só ovo. Pode chamar-se uma dúzia a um só ovo, mas para convencer alguém de tamanha parvoíce, é preciso tornar a coisa artística e atribuír-lhe um preço com uma dezena de vários zeros.

Mais, alegadamente a obra cria experiências, potencia o observador, e combina elementos, tudo numa fraccção de segundo. Claro, não foi por acaso que o artista filmou a 24 fps, tivesse escolhido o formato NTSC, e a sua obra passava a durar apenas 1/30 de segundo, o que deixaria muito pouco tempo para potenciar fosse o que fosse.

Ainda assim, a ideia de um filme de um só frame não é de todo inédita. O Manoel de Oliveira faz filmes de um só frame há pelo menos 170 anos, a diferença é que o Oliveira repete o mesmo frame durante três horas seguidas.

Alfred Hickling do The Guardian observou: "A obra não conseguiu um lançamento no grande ecrã". Se calhar conseguiu Alfred, mas espirráste no momento em que passou e não viste...

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

OS CARANGUEJOS NÃO ANDAM PARA TRÁS! ANDAM PARA O LADO!

Há muito, muito tempo, houve um bazaroco qualquer que olhou para um molhinho de estrelas e achou o molhinho parecido com um caranguejo. A coisa pegou, e agora quando se nasce é-se carneiro, balança, touro, aquário ou mesmo aquele gajo com cara de cavalo... ou corpo de cavalo. Whatever. É-se qualquer coisa destas extraordinariamente astrológicas, entre outras que tais.

Eu calhei ser caranguejo, o que nunca me incomodou muito porque indicações como "tenha cuidado com a alimentação" ou "atenção a possíveis problemas de saúde" me parecem boas ideias de qualquer maneira, tivesse eu nascido neste ou naquele dia. Eu tenho cuidado com a alimentação para não ficar de caganeira e tenho atenção à saúde porque sem ela fico doente. E isto de astrológico não tem nada, portanto tudo bem.

Mas vai-se a ver e tudo bem nada! Acontece que há pessoas em posições de chefia, que tomam decisões que nos afectam, e para as quais é importante o animalzinho que o bazaroco viu no molhinho de estrelas, há culhentos anos atrás.
Isto revelou-se numa conversa telefónica com uma amiga, sobre currículos e afins, em que ela se ofereceu para me dar conselhos sobre postura em entrevistas de emprego, matéria em que (discutivelmente) teria mais experiência que eu, por estar encarregue do recrutamento na empresa em que trabalhava. Começou com o óbvio:

"Deves ir bem vestido", "Ao cumprimentar, aperta a mão com firmeza", "Fala só do que sabes". Ao que rematou com a seguinte pérola da sabedoria:

"...Ah, e não digas que és caranguejo!"

"Hã? Tás a gozar comigo!" Perguntei, embora com pouca esperança de que fosse mesmo a gozar.

"Não digas que és caranguejo." Repetiu. "Toda a gente sabe que os caranguejos andam para trás e isso é sinal que podes não ser bom trabalhador."

"HAHAHAHA! F***-se! Para começar os caranguejos não andam para trás! Andam para o lado! Depois se essa m***a fosse mesmo verdade só se contratavam gémeos porque trabalham a dobrar!"

"Mas o signo é importante" Explicou ela.

"Importante? Importante o c***lhinho! Se me viesses com essas m***as durante a entrevista, acabava-se logo ali a conversa! Já seria mau trabalhar numa empresa em que o recrutador fosse ignorante ao ponto de achar que os caranguejos andam para trás, mas cretino ao ponto de avaliar o valor de um trabalhador pelo dia em que nasceu é demais! Já para não falar no palerma do patrão, que o pôs à frente dos recursos humanos!"

A conversa continuou por pouco tempo. Basicamente porque eu ria tanto que não conseguia articular nada que se parecesse sequer com palavras, muito menos frases. Quando percebi a gravidade da questão passou-me logo a vontade de rir. Estas pessoas existem, e ocupam cargos importantes onde tomam decisões que afectam a vida de outras pessoas, mas baseiam essas decisões em crenças e convicções pessoais, ignorando os factos pertinentes que estão ali à sua frente, na forma de currículos e portfólios. Isto é muito grave. Contratar ou rejeitar um trabalhador pelo lançar de dados seria menos grave.

Resumindo, na entrevista de emprego, perguntem ao entrevistador para que lado anda o caranguejo, e se ele responder "para trás" desejem-lhe um bom dia e ponham-se na alheta. E se forem do signo aquário não digam nada e aldrabem a data de nascimento, não vá a pessoa pensar que só metem água...

sábado, 6 de janeiro de 2007

F***sss Mix

Há muito que a criação de música está democratizada. Qualquer computador pessoal munido de um software como o Garageband para Mac OS, ou o E-Jay para Windows, é tudo o que o grunho musical necessita para juntar uns samples e fazer qualquer coisa que soe minimamente bem.

Como qualquer grunho musical que se preze, lá fui meter o bedelho num desses programas e dar o meu contributo para aumentar a poluição sonora na minha àrea de residência, alienando todo e qualquer ser vivo dotado de audição num raio de 100 metros.

A ideia para o tema F***sss Mix (fabuloso este título não é? Rivaliza com a m***a da música...) surge de uma sessão de trabalho académico em que a minha querida colega Sílvia Patrão, face a uma falha do programa de edição de vídeo em que trabalhava, recorreu ao método da função pública para a resolução de problemas - praguejou vigorosamente e delegou a responsabilidade para a pessoa mais próxima. A sublime vociferação ficou gravada em vídeo e o som foi editado e dividido em samples para a composição final.

Voz Principal - Sílvia Patrão
Vozes de Apoio - Adriana Silva, Bruno Krippahl
Produzido e Misturado por Bruno Krippahl