quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Cliché Técnico

No âmbito do mestrado em Design de Comunicação e Novos Media da Faculdade de belas-artes de Lisboa, decorre entre 21 Janeiro e 08 Julho o Curso de programação de ambientes jogáveis, por André Sier. É uma iniciativa interessante, com aplicações práticas nas novas tecnologias de comunicação. A matéria consiste em programação, processamento de som, 3D, análise de dados através de sensores, entre outros.

Naturalmente, e sendo uma iniciativa da Faculdade de belas-artes (esse pilar da clarividência comunicativa) o curso chama-se... vejam se adivinham:

1 - Curso de programação de ambientes jogáveis.

2 - Curso de criação de programas e circuitos lógicos

3 – Som do Pensamento

Exactamente. Mesmo sem o tom jocoso do post - uma clara indicação que a resposta mais disparatada é a certa - qualquer pessoa ciente do pedantismo daquela gente percebe que o curso só poderia chamar-se Som do Pensamento. E não há dúvida que soa bem. Soa a algo culturalmente engrandecedor. Não diz é puto sobre o curso em si.

Como já referi num post anterior, este tipo de enaltecimento pseudo-intelectual idiota é o mantra entoado por muitos docentes da FBAUL (com mui apreciadas excepções), sendo em muitos casos o único valor realmente reconhecido nos trabalhos dos alunos, sejam eventos ou produções gráficas. Numa famosa avaliação final de uma cadeira prática um aluno entregou dois trabalhos de cinco previstos, mais hora e meia de verborreia artística indecifrável. Nota final da cadeira: 18 valores. A regra geral é aplicar 40% do esforço a fazer um trabalho de merda e 60% a explicar porque é que é fabuloso, em vez de 100% a fazer um trabalho fabuloso.*

Mais recentemente um grupo de finalistas de design de comunicação organizou um evento muito semelhante ao Som do Pensamento, mas sem o nome idiota. O Specweek (speculative week) foi uma semana de ensaios sobre arte fantástica, com conferências e workshops sobre ilustração, concept art e modelação 3D, com objectivos práticos e de carácter marcadamente técnico e tecnológico. A ausência de alguns docentes foi explicada de forma sublime pelas palavras da professora Luísa Ribas quando lhe perguntaram se estava interessada em assistir:

“Não. Isso cai no cliché técnico.”

Sábias palavras para quem não sabe a diferença entre a resolução de um monitor e a resolução da imagem que o monitor apresenta.

O facto da professora Ribas ser precisamente quem organizou o curso de programação de ambientes jogáveis, leva-me a crer que a criação de circuitos lógicos e a análise de dados através de sensores não caem na categoria de cliché técnico. Naturalmente. Uma coisa é Geeks a fazer Bonecos, e outra é o - Som do Pensamento... mento... mento...

*Em justiça, devo esclarecer que o aluno em questão teve apenas um trabalho merdoso dos dois que apresentou. Mas como regra geral, as percentagens apresentadas aplicam-se.

5 comentários:

Abobrinha disse...

Krippmeister

Som do pensamento... eu ia dizer qualquer coisa sobre flatulência, mas é melhor não!

Bestial! Eu devia ter ido para a tua Faculdade! Pelos vistos tinha qualificações (o que não inclui fazer bonecos, que claramente não é importante).

Aqueles totós é que não sabem que ser geek é sexy! E artístico!

Beijinhos!

Salto-Alto disse...

LOL! Mais uma vez a mediocridade das universidades me assusta...

"Som do Pensamento" faz lembrar intelectuais filósofos que ainda não despertaram para a vida... Que coisa mais sonsa!

"Isso cai no cliché técnico."... Eu sei muito bem ao que ela precisava de assistir...

Joaninha disse...

Saltinho, posso fazer uma correcção ao teu comentário? Posso? pleeeease....

Aqui vai

"Isso cai no cliché técnico>"... o que a saltinho queria dizer era "eu sei muito bem aonde ela precisava de cair" hehehe...

São os chamados pseudointelectuais de esquerda (de esquerda não por serem politicamente de esquerda, provavelmente ainda não abarcam o conceito do politico, mas por se vestirem com andrajos e não tomarem banho :)

beeeijos

PS: Ainda bem que não és desse homem, senão teria de te odiar...

Anónimo disse...

Pela tua descrição do que se passa nessa faculdade (receio que não seja a única) o Som do Pensamento parece-me que deve ecoar bastante nos espaços vazios que são as cabeças de certos responsáveis. Os pensamento em si é que se calhar é mais difícil de encontrar
Cristy

Anónimo disse...

Krippmeister, és um patrão. A exactidão das tuas palavras sobre a CAGA deixa-me perplexo.