O Jack in the Box está no número 50 da Imagine FX. Obrigado ao Ricardo e à Ana pela dica.
sábado, 12 de dezembro de 2009
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Sem Título
O choque de perder alguém próximo causa um estado de apatia em que tudo parece mexer-se em câmera lenta. E ainda bem que assim é, porque o processo que se segue de lento não tem nada.
Menos de dez minutos depois de receber a notícia já há dezenas de documentos para organizar a assinar. Alguém nos explica que o corpo vai dali para ali e depois para ali, de onde sai finalmente para outro lugar qualquer. Ouvimos a pessoa falar e dizemos que sim, mas sem ainda sequer perceber como raio é que aquela pessoa a quem há poucas horas mandámos um beijo, de repente é o “corpo”. Tiramos uns segundos para respirar, antes de pegar no telemóvel para espalhar a miséria pelo resto da família. É uma situação em que não é bom ter seis irmãos. Quem é que eu vou desesperar primeiro? Como? Há sequer uma maneira melhor de dizer isto? - “Yo! Como é que é? Tudo bem? Olha, é só para avisar que houve uma explosão em casa e morreu toda a gente! Naaaa! Tou a brincar! Não houve explosão nenhuma e foi só o pai que morreu.”. Decididamente é melhor nem pensar muito. Já é desafio suficiente ter que articular frases coerentes.
O Sr. Da funerária aparece com um catálogo de caixões e urnas e flores, mais uma tonelada de perguntas complicadas sobre cemitérios e heranças e registos. Escolhe-se uma catrefada de opções, faz-se a conta e diz-se que sim para ver se a coisa acalma. Nem pouco mais ou menos.
Para os dias seguintes há mais papéis para assinar, o corpo para identificar, mais papéis, transporte, e mais papéis seguidos de ainda mais papéis. Já no velório tentamos que permaneça um pouco da boa disposição e humor característicos de quem partiu - ”Ainda bem que vieram, isto por aqui está um bocado morto”. Mas a verdade é que todo aquele cenário está feito para deprimir as pessoas até aos ossos, não para aliviar as tristezas. Ou não fosse o lugar uma igreja católica.
A cremação no cemitério dos olivais é uma cerimónia calma e serena. Bem menos sombria que o raio da igreja. Diz-se um adeus, o caixão vai, e umas horas depois saem dois tipos com umas jardineiras à Super Mário, com o cabelo cheio de cinzas e um potezinho metálico do tamanho de uma lata de chupa-chups. Abrem um buraquinho no chão, despejam a lata e tapam. Instala-se um silêncio pesado, até que alguém diz - “Quando eu morrer também quero ser zipado”.
Há tempo apenas para pôr uma florzinha - para quem precisa de um lugar simbólico para visitar - antes de chegar outro “corpo” e recomeçar o processo. À saída ainda se faz mais uma homenagem ao humor de quem, apesar de ter atravessado inimagináveis horrores e privações, sempre manteve um sorriso bem disposto.
- ”Saem que nem pãezinhos quentes”
Menos de dez minutos depois de receber a notícia já há dezenas de documentos para organizar a assinar. Alguém nos explica que o corpo vai dali para ali e depois para ali, de onde sai finalmente para outro lugar qualquer. Ouvimos a pessoa falar e dizemos que sim, mas sem ainda sequer perceber como raio é que aquela pessoa a quem há poucas horas mandámos um beijo, de repente é o “corpo”. Tiramos uns segundos para respirar, antes de pegar no telemóvel para espalhar a miséria pelo resto da família. É uma situação em que não é bom ter seis irmãos. Quem é que eu vou desesperar primeiro? Como? Há sequer uma maneira melhor de dizer isto? - “Yo! Como é que é? Tudo bem? Olha, é só para avisar que houve uma explosão em casa e morreu toda a gente! Naaaa! Tou a brincar! Não houve explosão nenhuma e foi só o pai que morreu.”. Decididamente é melhor nem pensar muito. Já é desafio suficiente ter que articular frases coerentes.
O Sr. Da funerária aparece com um catálogo de caixões e urnas e flores, mais uma tonelada de perguntas complicadas sobre cemitérios e heranças e registos. Escolhe-se uma catrefada de opções, faz-se a conta e diz-se que sim para ver se a coisa acalma. Nem pouco mais ou menos.
Para os dias seguintes há mais papéis para assinar, o corpo para identificar, mais papéis, transporte, e mais papéis seguidos de ainda mais papéis. Já no velório tentamos que permaneça um pouco da boa disposição e humor característicos de quem partiu - ”Ainda bem que vieram, isto por aqui está um bocado morto”. Mas a verdade é que todo aquele cenário está feito para deprimir as pessoas até aos ossos, não para aliviar as tristezas. Ou não fosse o lugar uma igreja católica.
A cremação no cemitério dos olivais é uma cerimónia calma e serena. Bem menos sombria que o raio da igreja. Diz-se um adeus, o caixão vai, e umas horas depois saem dois tipos com umas jardineiras à Super Mário, com o cabelo cheio de cinzas e um potezinho metálico do tamanho de uma lata de chupa-chups. Abrem um buraquinho no chão, despejam a lata e tapam. Instala-se um silêncio pesado, até que alguém diz - “Quando eu morrer também quero ser zipado”.
Há tempo apenas para pôr uma florzinha - para quem precisa de um lugar simbólico para visitar - antes de chegar outro “corpo” e recomeçar o processo. À saída ainda se faz mais uma homenagem ao humor de quem, apesar de ter atravessado inimagináveis horrores e privações, sempre manteve um sorriso bem disposto.
- ”Saem que nem pãezinhos quentes”
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