terça-feira, 15 de julho de 2008

Tijolinhismo

Tijolinhismo, como o próprio nome indica, não é mais que o ressurgir do tijolismo, mas com um tijolo mais pequeno.

O fenómeno tem a sua génese no seio da recém nascida cultura b-boy, em que os breakdancers levavam o rádio a pilhas para as ruas de forma a dançar ao som de uma musicalidade electrónica emergente. O tijolismo, que consistia em carregar ao ombro um rádio / leitor de cassetes demasiado volumoso (geralmente a tocar Technotronic ou MC Hammer) era a nova e rebelde afirmação social, que trazia a nítida vantagem de chatear toda a gente nos transportes públicos. Quem na altura ia para a praia de S. João da Caparica com os amigos, certamente viveu gloriosos momentos de tijolismo em toda a sua exuberância socio-cultural, sob a forma de um Pump Up The Jam ou Can´t Touch This a um volume ensurdecedor num cacilheiro apinhado de gente.

Depois do seu auge em finais dos anos 80, o fenómeno foi perdendo expressão, até adormecer por completo em meados da década de 90. Durante os cerca de 15 anos que se seguiram, a chama tijolista foi abafada. Talvez pela transição da cassete para cd e a explosiva proliferação dos walkman, com os headfones a tornarem o som uma experiência individual.

Mas o tijolismo, na sua condição de paradigma comportamental, serve propósitos bem mais profundos que apenas o de tocar techno piroso dos 80´s em público. É a expressão suprema do preto que quer ser um rapper famoso, e do branco que quer ser um rapper preto. Do puto que descobriu que a pila não serve só para escrever o nome na parede do pavilhão C, e da miúda que estava a ver que esse dia nunca mais chegava. Do mitra que quer saltar prá cueca da Cátia Vánessa, mas como não sabe articular uma frase que seja, leva o tijolo a partir para conseguir impressionar sem ninguém ter que ouvir nada do que o outro diz. Andar com um tijolo ao ombro é dizer: “Estou aqui! Sou rebelde! E possivelmente vou ter complicações auditivas aos 40...”

Cerca de 15 anos depois, o tijolinhismo vem reanimar a velha atitude de trazer um rádio às costas, mas desta vez com contornos um pouco diferentes. O tijolismo do ano 2008 é feito com telemóveis em vez de leitores de cassetes a pilhas, e com Kizomba em vez de Techno. O metropolitano tornou-se o novo centro da actividade. É vulgar ver entrar um jovem encapuçado com as calças 13 números acima e aquele andar cool que faz lembrar alguém com uma escoliose a tentar desentalar as cuecas do rego sem usar as mãos, com um telemóvel a tocar “Da-nu-ta... mi-bei-ja... Da-nu-ta... mi-am-a”.

Só o futuro poderá desvendar sob que forma se manifestará o tijolismo no seu próximo ciclo de ascensão, e se poderá encontrar o seu lugar legítimo face a outros fenómenos emergentes como o fodasssoumuitabomcomomeucarroamarelotodoquitadoeomeubonezinhocompiercingseocantanteapartirismo.

6 comentários:

Abobrinha disse...

Herr K

E depois há sempre a tijoleira tecnológica. A que tem teimosamente e contra todas as evidências um Nokia 3310 há 5 anos (ou será mais?), apesar de estar sempre a dizer que o vai trocar por algo mais moderno, mas ainda não percebeu que um telemóvel serve para mais que mandar e receber chamadas... ou será que estou eu certa e os outros estão todos errados?

Mas alguns toques de telemóvel... nossa senhora! Ao menos o tempo do tijolismo original dava para um gajo se rir!

Joaninha disse...

Mais uma vez um texto eloquente, um verdadeira perola literaria

JP disse...

O texto tá um mimo. :)

Agora andas de Metro?
Não me digas que te fanaram a bike...

Krippmeister disse...

Fanaram-me a bike.

Abobrinha disse...

Outra???? TEmos que alertar o Ministério da Administração Interna para o fenómeno do Bike-jacking, definitivamente!

Anónimo disse...

É nessas situações nos transportes públicos que eu tendo a esquecer todos os meus príncípios liberais e esclarecidos, e desejar ter tijolos à mão, mas daqueles verdadeiros e pesadinhos ...
Cristy