segunda-feira, 3 de maio de 2010

The Gauntlet - Parte I

O meu quarto está oficialmente desarrumado. Chegou áquele nível de caos onde já não se vê o chão. De momento, a única indicação de que existe sequer um chão é o facto das dezenas de camadas de roupa e papéis e peças das mais variadas origens (algumas delas preocupantemente misteriosas) ainda não se terem precipitado, qual fluxo piroclástico, para cima da vizinha de baixo. O que no entanto, a julgar pela quantidade de lixo que acumulei neste último mês, não deverá demorar muito a acontecer.

É através destes três metros e meio de puro terror que eu tento chegar da porta do quarto à cama no final de cada dia. É o derradeiro desafio de sobrevivência e força mental. O percurso, respeitosamente chamado The Gauntlet, não consiste propriamente em saber onde pisar para evitar os objectos. Isso é fisicamente impossível. Consiste sim em saber pisar nos objectos que não provocam lacerações, contusões, luxações, esventramento, corrosão química, ou de uma forma geral qualquer falha catastrófica de funções vitais.

No Gauntlet pode ser-se bem sucedido mil vezes, mas só se é mal sucedido uma.

Assim que apago a luz junto à porta, começa um jogo de memória visual de uma complexidade incalculável, com camadas sobre camadas de objectos que conspiram para me ceifar a vida, e me deixar a fossilizar no escuro... de cuecas (não durmo de pijama). Fecho os olhos e acedo à imagem mental de desolação da qual depende a minha vida. À minha frente está a Cadeira do Estirador, uma coluna de metal e plástico cheia até acima de uma massa disforme formada por roupa suja, teclados de computador, comandos de Game Cube e meia lata de Raid Casa e Plantas para uso doméstico. É um obstáculo ao qual não sobreviveria, o meu caminho é mais à esquerda, através do Saco do Guitar Hero.

Esta área estende-se por 45cm entre a Cadeira do Estirador e a Electrónia, um ar condicionado portátil com um tubo extensível capaz de asfixiar um ser humano em segundos, enquanto desumidifica e perfuma o ar. Mas eu conheço os riscos, e quero dormir. Vamos a isto. Ponho o pé dentro do Saco e sinto a mola do pedal do Guitar Hero a tentar amputar-me um dedo. Felizmente está parcialmente obstruída por uma luva de snowboard enrolada em cabos SATA e USB. Mas isso não me traz alívio. Deste novelo híbrido sai uma parte do fio dos headfones que liga ao Computador, uma torre de metal electrificada de 25kg com cantos afiados. Perturbar esta besta mitológica representa a morte certa, tenho que caminhar cautelosamente...

...Continua na Parte II

4 comentários:

Joaninha disse...

Suponho que arrumar o quarto não é uma solução possivel pois não?

Então força ai, esperamos ansiosamente o resto da aventura :)

Krippmeister disse...

Arrumar o quarto é a opção dos fracos!

Joaninha disse...

Imaginei que a tua resposta fosse desse genero. :)

Cristy disse...

A falta da parte 2 significa "game over"? ;-)