sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

E o Oscar vai para...

A pedido da Abobrinha cá vai um post sobre o trabalho de efeitos visuais em Pirates of the Caribbean: Dead Man´s Chest, com especial atenção à tripulação do Flying Dutchman e o capitão Davy Jones.

Modelação
O projecto implicou a modelação de 18 personagens digitais e 32 variações, mais os modelos dos navios, o Kraken, e os duplos digitais do Jack Sparrow, Bill Turner e companhia. Toda a tripulação do Flying Dutchman é totalmente digital, excepto o Bootstrap Bill. O conceito é que quanto mais tempo alguém passa no navio, menos humano se torna, pelo que apenas o novato Bootstrap (à direita na imagem) se conseguiu resolver através de caracterização.


Os modelos digitais são construídos segundo referências fotográficas dos actores que dão vida ás personagens principais para que as proporções sejam compatíveis, de modo a dar melhores resultados durante a fase de captura de movimento. Para o capitão Davy Jones, os olhos do actor Bill Nighy foram fielmente reproduzidos para garantir que a actuação transpareça mesmo através da cara de lula.


Os modeladores da ILM criaram ainda centenas de conchas, lapas, algas e outras variadas formas de vida marinha para que os directores técnicos pudessem decorar facilmente os homens do Flying Dutchman.

O último grau de detalhe foi modelado em Z-Brush e exportado para o Zeno (a ferramenta de consolidação e gerenciação da ILM) como displacement maps de 32 bits.


Animação
Os animadores trabalharam com os dados da captura de movimento registados durante a fotografia principal. O novo sistema da ILM, o Imocap, não requer um estúdio de captura, o que permitiu ao realizador Gore Verbinski dirigir os actores, e consequentemente as personagens digitais, a interagir directamente com Johnny Depp e Orlando Bloom. O Imocap funcionou lindamente em variadas condições de luz exterior, mesmo com os actores dentro de água. A desvantagem é que os actores tiveram que representar vestidos com uns pijaminhas cinzentos com bolinhas penduradas, para que o sistema de captura os conseguisse identificar e determinar a sua posição no espaço.


Para as animações faciais principais, a equipa recorreu à animação manual, o que permitiu um ajuste preciso das expressões e lip-sync de Bill Nighy e dos restantes tripulantes. Os 46 tentáculos do capitão Davy Jones foram animados programaticamente, através de uma versão melhorada do sistema de física proprietário da ILM. A exepção são os planos em que tentáculos “herói” efectuam acções pré-determinadas.

Iluminação, Rendering e Composição
As medições de iluminação e temperatura de cor foram tiradas directamente dos fatos cinzentos 17% usados na captura de movimentos, o que facilitou a tarefa dos compositores. Cerca de 80 compositores trabalharam em Apple Shake para montar os 1.100 planos, alguns com cerca de 100 layers. O ataque do Kraken foi um dos mais complicados, integrando água digital, água real, extensões digitais dos barcos, personagens digitais, actores filmados em fundo azul, nevoeiro, detritos digitais e por aí fora. O estúdio utilizou o Renderman da Pixar para o render final. Christophe Hery trabalhou com a Pixar para integrar os efeitos de sub-surface scattering e ray tracing e criar materiais hiper-realistas como a pele de polvo de Davy Jones, com várias camadas de detalhe, incluindo veias que afectam a cor da luz quando esta se dispersa no interior da pele.


Em 2007 o filme arrecadou o Oscar para melhores efeitos visuais. No discurso de agradecimento John Knoll pediu desculpa a Bill Nighy pelo pijaminha ridículo.

Crossing the Great Uncanny Valley
A Treasure Chest of Techniques
Shades of Davy Jones

1 comentário:

Abobrinha disse...

Herr Krippmeister

És mesmo bem mandado. Qualquer dia abuso e peço-te mais qualquer coisa... com jeitinho... ... ... (se estavas a pensar em porcarias, ficas a saber que eram os famosos convites para as festas de aniversário da minha pequenina).

Não sabia de nada destas coisas: não sabia que isto era tudo digital (mmmm... as piadas que eu já fiz com esta palavra!), não sabia dos pijamas. Olha, sou uma totó. Esta era uma boa altura para te pedir para me explicar isto ao ouvidinho, mas não vou fazer isso senão ficas convencido!

O que quer dizer que cresci possivelmente demais e na direção errada: eu gosto deste mundo de fantasia e devia voltar a informar-me sobre estas coisas. Não é para fazer (não sei desenhar, não é a minha especialidade), mas só para apreciar o que vejo como verdadeira arte. Estás a ver aquelas conceptulisienirtngsonaenozações de exposições de arte moderna? Não tem nada a ver: prefiro cinema de animação e filmes de efeitos especiais do melhor.

Acho que já te disse que fui ver o "Starship troopers" (nunca me lembro do nome em português) só pelos efeitos especiais. Não fiquei minimamente arrependida: o filme estava visualmente um espanto!

Agora quero ver o teu post dos transformers. E... tenho que ver o filme... até tenho vergonha: acompanhei os desenhos animados um monte de tempo e falhei o filme!

Em contrapartida, podes fazer pedidos no meu estaminé. Pedia-te que fosses mais original que o que se espera e pedisses mais que fufas. Mas é só uma sugestão.

De qualquer modo o que quer que escreva será só para o ano: vou largar o computador daqui a pouco. É que ainda tenho que fazer a mala para 4 dias de frio de carago e caminhadas no meio da natureza.

Uma boa passagem de ano.

Abobrinha